Dança para todos em São Caetano
segunda-feira, 16 de julho de 2012Hoje as alunas têm o balé como profissão. Uma delas, inclusive, se tornou professora. E isso ainda é pouco para falar do resultado do trabalho da bailarina Fernanda Bianchini. Quando se apaixonou pela arte, ainda pequena, sequer sabia que iria trilhar tão belo caminho e que, além de ensinar, participaria tão fortemente da inclusão social.
Figura nascida em São Caetano, Fernanda leciona balé para deficientes visuais – seu foco – , auditivos, mentais emotores, e mostra ao público da região um pouco do resultado dessa prazerosa batalha, com apresentação hoje, no Teatro Santos Dumont, às 17h.
A Cia. de Balé de Cegos ilustrará o palco com estilos clássico, livre e de repertório – como Don Quixote. Sapateado também faz parte do show. Trechos do espetáculo Bela Adormecida, que estreia em setembro, também farão parte da apresentação. A entrada é gratuita.
Há 16 anos na labuta, Fernanda exerce esse trabalho voluntariamente. Os alunos não pagam pelo aprendizado e a companhia, com sede na Capital, vive de patrocínios e da ajuda de alguns colaboradores. Hoje o grupo conta com oito professores – seis são contratados – e 88 alunos.
“Elas têm o balé como profissão. Não é fácil. É muito difícil aprender sem enxergar. Elas vão se superando, caminham livremente”, conta Fernanda. Além das adultas, ela revela que o grupo infantil já sonha e quer ser profissional como as maiores. Para ensinar deficientes visuais, a bailarina desenvolveu técnica e defendeu sua tese em mestrado, há sete anos.
“É tudo através do toque”, diz. “Percebi que elas precisavam do meu toque. Elas são perfeitas de corpo, não há motivo para não aprenderem balé clássico”, afirma. A professora conta que certa vez foi ensinar um passo a uma aluna e pediu que ela imaginasse seu pé entrando e saindo de um balde. A aprendiz questionou o que seria um balde. “Antes de entrar nesse trabalho, tem de mergulhar no mundo deles, vendar os olhos e entender como o universo deles funciona”, acredita. “A inclusão social começa quando as pessoas se colocam no lugar do outro”, completa.
Fernanda diz também que sempre fez questão de que seu trabalho fosse aplaudido pela qualidade e não apenas por ser um projeto com deficientes. “Não é porque é deficiente que qualquer coisa está bom. Tem de ter qualidade. Elas têm potencial para fazer mais e mais. Tudo é possível com força de vontade. Através das alunas, aprendi a enxergar o mundo com os olhos do coração.”
Associação de Ballet e Artes para Cegos Fernanda Bianchini – Dança. No Teatro Santos Dumont – Avenida Goiás, 1.111. São Caetano. Tel.: 4227-7761. Hoje, às 17h. Grátis.
Fonte: Diário do Grande ABC