Em São Caetano tem um táxi para cada 466 habitantes
segunda-feira, 1 de abril de 2013O Grande ABC tem um táxi para cada 1.703 habitantes. A proporção é baixa em comparação com a Capital, onde cada veículo atende, em média, 336 passageiros. Ao todo, 1.472 motoristas prestam esse serviço na região, com exceção da cidade de Rio Grande da Serra, que não informou os dados. O cálculo foi feito com base nas informações habitacionais do Censo 2010, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Especialistas ouvidos pela reportagem avaliam que a quantidade de taxistas é mais baixa no Grande ABC em razão da demanda reduzida. O crescimento da frota de automóveis particulares e o preço elevado cobrado pela corrida são fatores que afastam os usuários. Na região, a bandeirada – valor cobrado no início do trajeto – custa R$ 4.
Na bandeira 1, entre 6h e 20h, o quilômetro rodado sai a R$ 2,25. Na bandeira 2, a taxa é de R$ 2,70. Em ambos os horários, a hora parada vale R$ 23,70.
Na Capital, os problemas são os mesmos. No entanto, as características econômicas e culturais da cidade estimulam o uso do táxi. “Essa é uma atividade historicamente ligada ao turismo. Em São Paulo, o uso é mais intenso em função da grande quantidade de empresas, que são visitadas por pessoas de diversos lugares do Brasil e do mundo”, diz o engenheiro de tráfego e transporte Horácio Figueira.
Outro fator que impulsiona o serviço na Capital, comenta Figueira, é a dificuldade para estacionar, principalmente no Centro e em outras regiões com grande circulação de pessoas, como Avenida Paulista, Vila Olímpia e Itaim Bibi. Nesses locais, o valor cobrado pela hora chega a quase R$ 20. A vida noturna da metrópole também faz com que muitos optem em voltar de táxi para casa.
Para o engenheiro, a redução no preço da corrida iria atrair passageiros e retomar a cultura do uso desse meio de transporte. “Com pouca demanda, os taxistas querem ganhar em uma corrida o valor que compense o tempo que ficaram parados.”
Na opinião de Figueira, uma solução para baratear a tarifa é diminuir o luxo. “Não há necessidade, por exemplo, de utilizar veículos sofisticados, com ar condicionado e internet a bordo. Poderiam criar o táxi normal e o luxo. Quem quiser serviço de nível mais alto, que pague mais”, sugere. O especialista faz um comparativo com o setor aéreo. Segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), os preços das passagens aéreas caíram 43% entre 2002 e 2011, enquanto a procura por passagens no mesmo período teve alta de quase 200%.
Usuários optam por veículos particulares, ônibus ou trem
Passageiros do Grande ABC optam por utilizar veículos particulares ou o transporte coletivo para se deslocarem pela região. O táxi é utilizado em último caso, como em emergências ou trajetos mais longos.
“Se vou para uma balada em São Paulo, prefiro esperar o dia amanhecer e voltar para casa de trem do que pagar caro pelo táxi”, garante a promotora de vendas Sheila de Souza, 37 anos. A assessora jurídica Débora Lúcia de Lima, 28, também utiliza a ferrovia para ir da Capital a Santo André. Ao chegar na estação, opta por carona.
A auxiliar administrativa Alessandra Santos Silva, 25, usa o carro próprio como meio de transporte. Para ela, o principal problema dos táxis é a demora. “Se você precisar chamar de madrugada, vai levar muito tempo para chegar. É até perigoso ficar esperando”, lamenta.
Mesmo com as reclamações, os taxistas se dizem satisfeitos com o mercado. “Ultimamente temos muito serviço. Às vezes falta até carro para atender todo mundo”, relata Antônio Carlos Pires da Silva, 52.
O presidente do Sindicato dos Taxistas Autônomos do Grande ABC, Odemar Ferreira, é contra a criação de novas vagas. “Se colocarem mais carros, vai faltar serviço. Muitas vezes o povo vê o ponto vazio, mas é porque os táxis estão parados no trânsito”, justifica. Ferreira avalia que a quantidade atual de profissionais é até elevada, se considerado o número de passageiros.
Consórcio estuda meios para reduzir tarifa
O Consórcio Intermunicipal do Grande ABC estuda implantar ações que incentivem o uso do táxi na região. A coordenadora do Grupo de Trabalho de Mobilidade da entidade, Andrea Brisida, informa que os secretários municipais de transportes das sete cidades analisam meios para reduzir o valor da corrida. “Entre as soluções cogitadas estão a redução de taxas e impostos para taxistas”, afirma. A desoneração diminuiria os gastos da categoria, possibilitando aliviar o taxímetro. Também são discutidas a aplicação de subsídios e a padronização visual dos carros.
A coordenadora informa que pretende levar a discussão ao Conselho de Desenvolvimento Metropolitano, para que as ações sejam tomadas em conjunto com a Capital e as demais cidades da Grande São Paulo.
O objetivo é extinguir a taxa adicional de 50% cobrada quando o veículo na cidade de São Caetano cruza a divisa com outro município. “Isso é um absurdo. Esse é um serviço que tem caráter intermunicipal, mas está sob regulação dos municípios”, comenta a arquiteta e urbanista Silvana Zioni, professora da UFABC (Universidade Federal do ABC) e especialista em mobilidade urbana.
“São Paulo tem uma diversidade cultural muito grande. Se a população do ABC frequenta bares na Capital, não é possível que o táxi seja municipal”, acrescenta Silvana.
Para a professora, o uso do serviço também está associado à renda. Em São Caetano, por exemplo, existe um táxi para cada 466 habitantes. Em Mauá, a proporção é de um para 3.135 pessoas.
Segundo dados do Instituto de Pesquisas da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), a cidade tem renda média familiar de R$ 4.303. Em Mauá, o orçamento médio das famílias é 44,06% mais baixo, chegando a R$ 2.407.
Fonte: Diário do Grande ABC